quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Aquecimento Global: Causas, Conseqüências e Possibilidades

A Terra enfrenta hoje uma situação sem precedentes em sua história evolutiva. É o chamado Aquecimento Global, um aumento da temperatura do planeta provocado por atividades humanas. Este processo decorre da intensificação do Efeito Estufa, um fenômeno natural que mantém a temperatura do planeta dentro de níveis adequados á vida. Tal situação, ameaça à sobrevivência de muitos seres vivos, inclusive a civilização humana.
No fenômeno natural de Efeito Estufa, alguns gases presentes na atmosfera retêm parte do calor que a Terra reflete, evitando que este escape para o espaço. Se este processo não ocorresse, a temperatura do planeta seria, em média, 30oC mais baixa e apresentaria bruscas variações entre o dia e a noite, dificultando a vida que conhecemos no planeta.
Nos últimos 150 anos, porém, este processo tem se intensificado devido à queima de combustíveis fósseis e às mudanças no uso da terra e da água. Cerca de 99% da atmosfera atual é formada por moléculas de nitrogênio e de oxigênio, e a parcela restante inclui vários gases simples ou compostos.
Entre estes, chamados de gases traço, os mais conhecidos são o gás carbônico, o vapor d’água, o metano, o óxido nitroso, os clorofluorcarbonetos e o ozônio. Há evidências de que o aumento significativo nas concentrações destes gases traço está alterando a temperatura do planeta.
Para entender o problema e auxiliar no desenvolvimento de estratégias eficazes para reduzir os impactos deste aumento de concentração, os cientistas de todo o mundo empenham-se em identificar as principais fontes de gases-estufa emitidas pelo homem e compreender os mecanismos de absorção e emissão destes gases. A queima de combustíveis fósseis é a principal fonte e vem, principalmente, dos países desenvolvidos.
Entretanto, as mudanças no uso da terra e água, que normalmente estão associadas à destruição de florestas nativas para a agricultura, criação de gado e construção de grandes hidrelétricas e áreas florestadas, são atividades responsáveis por cerca de 30 % das emissões de gases de efeito estufa pelo homem, sendo o Brasil o principal responsável seguido de perto por outros países em desenvolvimento, como a Indonésia. 
        As florestas tropicais são responsáveis por parte do seqüestro de carbono da atmosfera. Anualmente, a floresta Amazônica madura absorve uma quantidade de carbono equivalente à cerca de metade da emissão mundial de gases por carros. Entretanto, desde 1990, a cobertura florestal tropical tem diminuído mais de sete milhões de hectares por ano no mundo.
Estas florestas são de suma importância, pois, absorvem boa parte do carbono que se acumula na atmosfera e que é o principal agente das mudanças climáticas. Assim, tanto a proteção das florestas originais quanto o reflorestamento de áreas devastadas tropicais são essenciais.
As pessoas têm de ter consciência de que a floresta não é somente um estoque de madeira para o consumo ou um espaço de terra disponível para agricultura e pecuária, mas uma das principais formas de manter o nosso planeta saudável.
Alexandre Kemenes
Pesquisador da Embrapa Meio-Norte       
alexandre.kemenes@cpamn.embrapa.br

segunda-feira, 1 de março de 2010

Carta do Zé agricultor para o Luís da cidade

Luis, quanto tempo. Sou o Zé, seu colega de ginásio, que chegava sempre atrasado, pois a Kombi que pegava no ponto perto do sítio atrasava um pouco. Lembra, né, o do sapato sujo? A professora nunca entendeu que tinha de caminhar 4 km até o ponto da Kombi na ida e volta e o sapato sujava.
Lembra? Se não, sou o Zé com sono... hehe. A Kombi parava as onze da noite no ponto de volta, e com a caminhada ia dormi lá pela uma, e o pai precisava de ajuda para ordenhá as vaca às 5h30 toda manhã. Dava um sono. Agora lembra, né Luis?!
Pois é. Tô pensando em mudá ai com você. 
Não que seja ruim o sítio, aqui é uma maravilha. Mato, passarinho, ar bom. Só que acho que tô estragando a vida de você Luis, e teus amigo ai na cidade. To vendo todo mundo fala que nóis da agricultura estamo destruindo o meio ambiente.
Veja só. O sitio do pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que pará de estuda) fica só a meia hora ai da Capital, e depois dos 4 km a pé, só 10 minuto da sede do município. Mas continuo sem Luz porque os Poste não podem passar por uma tal de APPA que criaram aqui. A água vem do poço, uma maravilha, mas um homem veio e falô que tenho que faze uma outorga e paga uma taxa de uso, porque a água vai acabá. Se falô deve ser verdade.
Pra ajudá com as 12 vaca de leite (o pai foi, né ...) contratei o Juca, filho do vizinho, carteira assinada, salário mínimo, morava no fundo de casa, comia com a gente, tudo de bão. Mas também veio outro homem aqui, e falo que se o Juca fosse ordenha as 5:30 tinha que recebe mais, e não podia trabalha sábado e domingo (mas as vaca não param de faze leite no fim de semana).
Também visitô a casinha dele, e disse que o beliche tava 2 cm menor do que devia, e a lâmpada (tenho gerador, não te contei !) estava em cima do fogão era do tipo que se esquentasse podia explodi (não entendi ?). A comida que nóis fazia junto tinha que faze parte do salário dele. Bom, Luis tive que pedi pro Juca voltá pra casa, desempregado, mas protegido agora pelo tal homem. Só que acho que não deu certo, soube que foi preso na cidade roubando comida. Do tal homem que veio protegê ele, não sei se tava junto.
Na Capital também é assim né, Luis? Tua empregada vai pra uma casa boa toda noite, de carro, tranquila. Você não deixa ela morá nas tal favela, ou beira de rio, porque senão te multam ou o homem vai aí mandar você dar casa boa, e um montão de outras coisa. É tudo igual aí né?
Mas agora, eu e a Maria (lembra dela, casei ) fazemo a ordenha as 5:30, levamo o leite de carroça até onde era o ponto da Kombi, e a cooperativa pega todo dia, se não chove. Se chove, perco o leite e dô pros porco.
Té que o Juca fez economia pra nóis, pois antes me sobrava só um salário por mês, e agora eu e Maria temos sobrado dois salário por mês. Melhorô. Os porco não, pois também veio outro homem e disse que a distancia do Rio não podia ser 20 metro e tinha que derrubá tudo e fazer a 30 metro. Também colocá umas coisa pra protege o Rio. Achei que ele tava certo e disse que ia fazê, e sozinho ia demorá uns trinta dia, só que mesmo assim ele me multo, e pra pagá vendi os porco e a pocilga, e fiquei só com as vaca. O promotor disse que desta vez por este crime não vai me prendê, e fez eu dá cesta básica pro orfanato. O Luis, ai quando vocês sujam o Rio também paga multa né?
Agora a água do poço posso pagá, mas to preocupado com a água do Rio. Todo ele aqui deve ser como na tua cidade Luis, protegido, tem mato dos dois lado, as vaca não chegam nele, não tem erosão, a pocilga acabo . Só que algo tá errado, pois ele fede e a água é preta e já subiu o Rio até a divisa da Capital, e ele vem todo sujo e fedendo ai da tua terra.
Mas vocês não fazem isto né Luis? Pois aqui a multa é grande, e dá prisão. 
Cortá árvore então, vige. Tinha uma árvore grande que murchô e ia morre, então pedi pra eu tirá, aproveitá a madeira pois até podia cair em cima da casa. Como ninguém respondeu ai do escritório que fui, pedi na Capital (não tem aqui não), depois de uns 8 mes, quando a árvore morreu e tava apodrecendo, resolvi tirar, e veja Luis, no outro dia já tinha um fiscal aqui e levei uma multa. Acho que desta vez o delegado me prende.
Tô preocupado Luis, pois no radio deu que a nova Lei vai dá multa de 500,00 a 20.000,00 por hectare  e por dia da propriedade que tenha algo errado por aqui. Calculei por 500,00 e vi que perco o sitio em uma semana. Então é melhor vende, e ir morá onde todo mundo cuida da ecologia, pois não tem multa ai. Tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazê nada errado, só falei das coisa por ter certeza que a Lei é pra todos nois.
E vou morar cocê, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usá o dinheiro primeiro pra comprá aquela coisa branca, a geladeira, que aqui no sitio eu encho com tudo que produzo na roça, no pomar, com as vaquinha, e ai na cidade, diz que é fácil, é só abri e a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nóis, os criminoso aqui da roça.
Até Luis.
Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas não conte até eu vendê o sitio.
(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desiqual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)

Por Ambiente Brasil - Luciano Pizzatto (*)
* É engenheiro florestal, especialista em direito socioambiental e empresário, diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF/IBAMA 88/89, deputado desde 1989, detentor do 1º Prêmio Nacional de Ecologia.