A relação do tema meio ambiente com o governo Lula/Dilma parece a mesma que temos com um sapato novo. Ele é bonito, as pessoas gostam de te ver com ele, mas ainda aperta um pouco o seu pé e parece ser um objeto estranho no armário. A rigor, esse metafórico calçado ambiental só entrou na estante do governo em 2009. Até então, apesar dos esforços da ex-ministra Marina Silva, que foi a primeira a ser escolhida no primeiro mandato de Lula, muito pouca coisa aconteceu. Tanto que, desgastada com as sucessivas brigas internas, Marina deixou o ministério e o partido.
Foi em 2009, um pouco antes da COP-15, em Copenhague, que o governo mudou radicalmente a sua posição em relação ao tema. De coadjuvante nas questões climáticas mundiais, passou a figurar entre os principais atores. Chegando a ser o primeiro país em desenvolvimento a apresentar uma proposta clara, transformada agora em lei, para reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Até então, o Brasil fazia coro à China e à Índia no discurso equivocado de que não tinha nada a ver com o aquecimento global e que isso era um problema dos países ricos. Uma tese parcialmente verdadeira, mas que pouco contribuía para a solução do problema.
De lá prá cá, reduzimos drasticamente o desmatamento na Amazônia, ajudamos a aprovar um bom acordo sobre biodiversidade em Nagoya, temos uma boa lei de resíduos sólidos e continuamos avançando em vários pequenos temas. Mas o sapato continua machucando o calcanhar e parecendo estranho. Quando o Incra decide desapropriar uma fazenda que estava preservando a floresta Amazônica para fins de reforma agrária, o governo fica mudo. Quando a Petrobras, maior empresa brasileira, decide ficar fora de um índice de eficiência de carbono que reúne quase todas as grandes empresas do país, o governo não reage.
É a velha e equivocada dúvida que paralisa governos e empresas em várias partes do mundo. Devo investir no resultado econômico, me preocupar com as questões sociais ou com a preservação ambiental? É preciso investir nos três igualmente. Nenhum projeto será economicamente viável, no tempo, se não for socialmente e ambientalmente responsável. E essa talvez seja a questão de fundo do governo Dilma que começa hoje. Como levar o Brasil para uma economia de baixo carbono, a economia do século 21, sem prejudicar o crescimento e sem esquecer do social?
Chegou a hora de tirar o meio ambiente do cercadinho em que viveu até hoje. A questão ambiental não pode ser um problema exclusivo da ministra Isabella Teixeira ou do Ibama. Tem que estar na cabeça e nas prioridades de todos os outros ministérios. Não porque eles são legais e querem salvar as plantinhas e os bichinhos, mas porque é fundamental para o país. É fundamental para transformar o Brasil numa das cinco grandes potências mundiais nos próximos 10 anos.
Para isso, o novo Código Florestal não pode colocar em campos opostos a agricultura e o meio ambiente. Precisamos de um projeto que seja bom para os dois, bem discutido e o mais próximo possível do consenso. Não podemos explorar o pré-Sal sem ter uma boa solução sobre o que fazer com as enormes emissões que CO2 que essa exploração vai provocar. E, apesar dele, não podemos parar de investir fortemente em energia limpa. Precisamos cumprir a lei de resíduos sólidos e acabar, antes da Copa do Mundo, com todos os lixões que envergonham o nosso país. E precisamos, sobretudo, aprender a usar e a explorar sustentavelmente, toda a riqueza da biodiversidade que existe na Amazônia. Sem destruir a floresta, é claro, mas plantando cada vez mais árvores para colher mais divisas.
By Blog Eco Verde
Por Agostinho Vieira
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