Secretaria diz que muitas nascentes urbanas estão contaminadas por bactérias
Apesar de serem impróprias para o consumo, as águas das bicas de Belo Horizonte, provenientes de nascentes subterrâneas, continuam a fazer parte da rotina da população. A prefeitura, por meio das secretarias de Meio Ambiente e de Saúde, afirma que essas águas não são potáveis e, por isso, não recomenda sua ingestão. O motivo são os possíveis riscos à saúde já que muitas dessas bicas estão contaminadas por bactérias, vírus e coliformes fecais. Mesmo assim, elas estão ao alcance das pessoas, seja em espaços públicos ou terrenos privados.
E um problema grave adicional à essa situação é a não orientação da população pelo poder público. Não existe nenhum movimento de alerta sobre os riscos de se consumir uma água não potável em nenhuma das bicas encontradas pela cidade, como nos parques e praças públicas. As bicas das praças da Liberdade, em Lourdes, e Duque de Caxias,em Santa Teresa, por exemplo, são usadas como bebedouros pelos cidadãos desavisados.
Falta de política pública
A superintendente da Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente), Maria Dalce Ricas, afirmou que grande parte das nascentes dentro de Belo Horizonte foram concretadas e as que sobrevivem ainda hoje, ou estão poluídas ou correm o risco de desaparecer. Segundo ela, não existe política pública de preservação das minas de água em territórios urbanos.
- Grande parte das nascentes foi concretada para dar lugar aos edifícios. As cidades trabalham com o princípio de exclusão da paisagem urbana, escondendo córregos e nascentes. Com isso, a população não vive mais com água natural. A prefeitura deveria ter um projeto de conservação para essas nascentes.
Segundo o gerente de conservação e recuperação do Cerrado e Caatinga do IEF (Instituto Estadual de Florestas), Vergilius Maro Clemente, é quase impossível se realizar um trabalho de preservação de nascentes em áreas urbanas, pois o que prevalece é o crescimento urbano e a condição do solo é muito vulnerável.
- Tem a questão da poluição do solo por meio do lixo, que com o chorume também contamina o lençol freático, além do esgoto. Não sabemos se a terra é capaz de filtrar tanta sujeita. E o fato da sair clara e aparentemente limpa da bica não quer dizer que a água é potável. Ela pode conter organismos que causam doenças.
Tradição
A bica localizada na rua Abílio Machado, na esquina com a rua Petrolina, no bairro Sagrada Família, região leste da capital mineira, por exemplo, é fonte de abastecimento de várias famílias. Diariamente, é possível flagrar grandes filas de pessoas no local que esperam sua vez para encherem seus galões e garrafas como líquido.
De lá, a água, que aparentemente é límpida, vai direto para a casa dessas pessoas, onde é usada para beber e cozinhar, principalmente. O empresário Fábio Gomes, 45 anos, bebe dessa água há cerca de uma década, quando se mudou para o Sagrada Família, e acredita que ela seja pura.
- Dizem que essa água é testada com frequência e que ela tem 95% de pureza. Ela é clarinha e nunca me fez mal. Vou continuar bebendo dela até que proíbam seu consumo ou acabem com a fonte. Até porque ela é boa e é de graça.
Gomes costuma encher dois galões de 20 litros por semana. No caso do comerciante Cláudio Luiz Assis, 37 anos, tal fonte faz ainda mais parte de sua vida. Ele diz que desde pequeno vem coletar água.
- Essa bica é antiga e é uma parte da minha vida. Desde que me entendo por gente, venho aqui. Quando pequeno, vinha com os meus pais. Agora, eu é quem pego água para minha família.
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