Em bate-papo sobre O Futuro da Água - promovido pela National Geographic Brasil, com o apoio do Planeta Sustentável -, especialistas afirmam que a relação que a população tem com a água está longe de ser satisfatória, o que acarreta em problemas de distribuição e contaminação e, ainda, em tragédias ambientais, como as enchentes ocorridas no início deste ano. O encontro ainda marcou o lançamento da edição especial da revista NG sobre o tema.
Nesta terça-feira, 22 de março, comemorou-se, mundialmente e pela 18ª vez consecutiva, o Dia da Água. Para celebrar a data, a revista National Geographic Brasil lançou sua edição especial e reuniu especialistas para bate-papo sobre O Futuro da Água, com o apoio do Planeta Sustentável. Com mediação de Matthew Shirts, redator-chefe da revista e coordenador do nosso movimento, participaram do encontro Mário Domingos, pesquisador do Instituto Sangari e curador científico da exposição "Água na Oca", Édison Carlos, presidente-executivo do Instituto Trata Brasil, e Renato Tagnin,consultor ambiental e co-organizador do livro Administrando a água como se fosse importante.
Durante a conversa, os participantes deixaram claro que, apesar de possuir água em abundância - afinal, o Brasil abriga 11% de toda a água doce do planeta e menos de 3% da população mundial -, o país não tem tantos motivos para comemorar o Dia Mundial da Água. Pelo contrário. "O primeiro grande problema diz respeito à distribuição do recurso no país. Apesar da água doce ser abundante no Brasil, ela está concentrada na região norte e, portanto, distante da maioria da população", explicou Mário Domingos. Mas o problema não é apenas geográfico: "Nos grandes centros urbanos, o consumo do recurso é excessivo, o que faz com que os reservatórios não consigam dar conta de toda a demanda da população, e a pouca água que temos está cada vez mais contaminada, por falta de consciência das pessoas e, também, de sistemas de esgoto adequados", completou o pesquisador do Instituto Sangari.
O problema do saneamento básico no país foi citado pelo presidente-executivo do Trata Brasil,Édison Carlos. Segundo o especialista, o Brasil é o 9º colocado no Ranking Mundial da Vergonha, que lista as nações que possuem o maior número de habitantes sem acesso ao banheiro. "São cerca de 13 milhões de brasileiros que, atualmente, fazem suas necessidades a céu aberto. Nós só perdemos para países muito podres da Ásia e da África, como a Nigéria. É realmente uma vergonha! Nem parece que somos a potência em progresso que aparece todos os dias nos noticiários. A cobertura de saneamento no Brasil não condiz com uma nação que aspira ter destaque global", disse Carlos.
Ele ainda citou um outro ranking mundial, o do IDH - Indíce de Desenvolvimento Humano, em que o Brasil também não está bem colocado por culpa da falta de saneamento básico. "Ocupamos a 73ª posição nessa lista. Além do aumento da renda do país, o que nos levaria para uma melhor colocação no ranking seria a diminuição da mortalidade infantil e melhorias na educação: dois fatores altamente relacionados ao saneamento básico", opinou Carlos, com base em dados divulgados pelo próprio Trata Brasil, que atestam que diariamente sete crianças morrem no país, vítimas de diarréia, por morarem em lugares que não possuem coleta de esgoto. E mais: os pequenos que ficam expostos a esse tipo de resíduo aprendem 18% menos.
No bate-papo, Renato Tagnin lembrou de outro grande problema que o país enfrenta, quando o assunto é água: a ocupação urbana nas áreas de várzea dos rios. "Em nome dos interesses imobiliários, essas regiões estão sendo aterradas. Pensamos que podemos medir forças com a natureza, que a tecnologia e a arquitetura poderão resolver qualquer problema, mas não é bem assim e as enchentes são prova disso. A prevenção deveria ser prioridade na gestão da água. Antes de nos preocuparmos onde ‘enfiaremos’ a água da próxima enchente, deveríamos lutar por cidades mais compactas", afirmou o especialista.
Segundo Tagnin, entre os prejuízos que a ocupação urbana em áreas de várzea pode trazer para os moradores da cidade, além das clássicas enchentes e inundações, estão:
- a maior vulnerabilidade à contaminação das águas subterrâneas, já que, por não serem regiões urbanas, essas áreas não possuem serviços de saneamento adequados, o que faz com que os dejetos sejam jogados a céu aberto, contaminando os lençóis freáticos;
- o aumento das ilhas de calor, que, além de intensificarem o aquecimento global, desregulam e aumentam o volume das chuvas e
- o aumento da contaminação da água da chuva, que, para continuar limpa, deveria cair em regiões de manancial, mas ao cair em áreas urbanas se contamina com a poluição atmosférica antes mesmo de chegar ao chão.
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